Moro numa casa alugada
Bairro ocupado
em cidade-satélite
Estado rural
País subdesenvolvido
Latinoamérica Nau
Now
estou indo
Alguém precisa de encanador?
ouvindo... Mercedes Sosa - Como un pájaro libre
comício
Poesias, diálogos e blablablás cotidianos
16 de abr. de 2010
15 de abr. de 2010
WWW
Não costumo seguir mandança
mas se quer espaço
te respeito
e aceito
aqui
neste espaço
de foto e palavra solta
E se não quer
me aceita
e constrói meu espaço
pra eu não ser sozinho
e te querer comigo
nesta valsa de melodia
onlaine
ouvindo... Gilberto Gil - Refazenda (refazendo toda guariroba...)
mas se quer espaço
te respeito
e aceito
aqui
neste espaço
de foto e palavra solta
E se não quer
me aceita
e constrói meu espaço
pra eu não ser sozinho
e te querer comigo
nesta valsa de melodia
onlaine
ouvindo... Gilberto Gil - Refazenda (refazendo toda guariroba...)
7 de abr. de 2010
Drama Cotidiano
_Escuta, você tá na Bahia e quer me dizer o que fazer em São Paulo? Vai pra...
_Senhor, esta ligação está sendo gravada.
_Tô nem aí. Vocês são uns bandidos mesmo. Cancela minha assinatura.
_O senhor gostaria de cancelar a assinatura?
_É porra! Tá entendendo não?
_O senhor precisa se acalmar.
_Como é que é? Faz seu trabalho, filha!
_Escuta, já parou pra pensar que eu sou só uma atendente de telemarketing? Ganho um salário ao mês pra ficar aqui dez horas por dia, já tô com problema nas cordas vocais e nunca conheci o infeliz do diretor da empresa, ainda mais o dono. E se o senhor quiser cancelar a assinatura, cancela, mas fique sabendo que vão descontar do meu salário e é minha filha quem vai sofer porque o leite em pó não vai chegar de novo esse mês. Tá entendendo?
_(...)
_Senhor?
_(...)
_Senhor?
ouvindo... Jorge Drexler - La vida es mas compleja de lo que parece
_Senhor, esta ligação está sendo gravada.
_Tô nem aí. Vocês são uns bandidos mesmo. Cancela minha assinatura.
_O senhor gostaria de cancelar a assinatura?
_É porra! Tá entendendo não?
_O senhor precisa se acalmar.
_Como é que é? Faz seu trabalho, filha!
_Escuta, já parou pra pensar que eu sou só uma atendente de telemarketing? Ganho um salário ao mês pra ficar aqui dez horas por dia, já tô com problema nas cordas vocais e nunca conheci o infeliz do diretor da empresa, ainda mais o dono. E se o senhor quiser cancelar a assinatura, cancela, mas fique sabendo que vão descontar do meu salário e é minha filha quem vai sofer porque o leite em pó não vai chegar de novo esse mês. Tá entendendo?
_(...)
_Senhor?
_(...)
_Senhor?
ouvindo... Jorge Drexler - La vida es mas compleja de lo que parece
5 de abr. de 2010
Te Ato
Choco
com ânsia de virada
Querendo
a ação do imóvel
especta dor
De pé
com texto
a pretexto
fazendo a consciência da tradição
a pó
ouvindo... Cordel do Fogo Encantado - O Espetáculo
com ânsia de virada
Querendo
a ação do imóvel
especta dor
De pé
com texto
a pretexto
fazendo a consciência da tradição
a pó
ouvindo... Cordel do Fogo Encantado - O Espetáculo
3 de abr. de 2010
Nova Idade
Cartão de crédito
talão de cheque
Crediário
conta-corrente
e-book
laptop
internet
celular
estresse
câncer
gripe estranha
bipolar
holding
cartel
publicidade
transnacional
e ninguém me perguntou nada
ouvindo... Teatro Mágico - Xanéu nº 5 (num passado remoto perdi meu controle...)
talão de cheque
Crediário
conta-corrente
e-book
laptop
internet
celular
estresse
câncer
gripe estranha
bipolar
holding
cartel
publicidade
transnacional
e ninguém me perguntou nada
ouvindo... Teatro Mágico - Xanéu nº 5 (num passado remoto perdi meu controle...)
26 de mar. de 2010
Trocado
Quê isso companheiro?
Perdeu pedaço da cabeça
ou entortou a consciência de vez?
Memória não se perde
mas vontade se vende na esquina
Tem quem pague a preço justo
é só empacotar e levar
ouvindo... Barão Vermelho - Declare Guerra
Perdeu pedaço da cabeça
ou entortou a consciência de vez?
Memória não se perde
mas vontade se vende na esquina
Tem quem pague a preço justo
é só empacotar e levar
ouvindo... Barão Vermelho - Declare Guerra
23 de mar. de 2010
22 de mar. de 2010
Grandes Teletransbosta
Ainda que se descubra a origem do universo
e o homem chegue em marte
Ainda que inventem o teletransporte
e uma receita para emagrecer vendo televisão
e patins voadores que acendam luzinhas
e um supercomputador com inteligência artificial
Vai morrer de fome do mesmo jeito
aquele terceiromundista desgraçado
mas você não se importa
porque já pode ir de um lugar a outro sem gastar calorias
ouvindo... Dead Fish - Subproduto
e o homem chegue em marte
Ainda que inventem o teletransporte
e uma receita para emagrecer vendo televisão
e patins voadores que acendam luzinhas
e um supercomputador com inteligência artificial
Vai morrer de fome do mesmo jeito
aquele terceiromundista desgraçado
mas você não se importa
porque já pode ir de um lugar a outro sem gastar calorias
ouvindo... Dead Fish - Subproduto
21 de mar. de 2010
Trato
entra
(sem pedir licença)
trato
contrato
destrato
maltrato
retrato
trato
sai
(e fica o retrato)
ouvindo... Chico Buarque - Feijoada Completa
(sem pedir licença)
trato
contrato
destrato
maltrato
retrato
trato
sai
(e fica o retrato)
ouvindo... Chico Buarque - Feijoada Completa
3 de fev. de 2010
Miopia
Pelos óculos caídos
tortos na face
Vejo um borrão
de cor primária
Tão claro
Nada nítido
Preferiria uma realidade
menos catarática
ouvindo... Radiohead - Fake Plastic Trees
tortos na face
Vejo um borrão
de cor primária
Tão claro
Nada nítido
Preferiria uma realidade
menos catarática
ouvindo... Radiohead - Fake Plastic Trees
5 de nov. de 2009
Caleidoscópio
Um dia após outro
No bate-rebate
Na correria
nada parece
se
co
nec
tar
E no fim da semana
quando nasce uma nova
se para
se pensa
se ligam as pontas
Vem o sentido
do desfeito
do não feito
do refeito
e do feito
pra
co
me
mo
rar
Ouvindo... Chico Buarque - Atrás da Porta (Te adorando pelo avesso...)
No bate-rebate
Na correria
nada parece
se
co
nec
tar
E no fim da semana
quando nasce uma nova
se para
se pensa
se ligam as pontas
Vem o sentido
do desfeito
do não feito
do refeito
e do feito
pra
co
me
mo
rar
Ouvindo... Chico Buarque - Atrás da Porta (Te adorando pelo avesso...)
2 de jul. de 2008
Contemporâneo
H - A verdade bate à porta e o que fazemos?
Coro 1 - Só corremos.
M - Quando o medo bate à porta, o que dizemos?
Coro 1: De acordo
Coro 2: De acordo
Coro 3: De acordo
M: E com acordo o que podemos?
Coro 1: Muito pouco
Coro 2: Pouco
Coro 3: Nada
H: E o que sabemos?
Coro 1: Muito pouco
Coro 2: Pouco
Coro 3: Nada
M: E o que fizemos
Coro 2: Pouco
M: Qual o logro?
Coro 3: Nada
M: E a solidão?
Coro 1,2,3: É o abismo
M: E a compaixão?
Coro 1,2,3: O cinismo
M,H: A solução?
(silêncio)
H: E quando bate a nostalgia
É que dizemos
Todos: Que amamos
Que lutamos
Que vencemos
M: Sem ao menos
nos lembrar
da insólita existência que nos fez
assim
ouvindo... Lobão - Nostalgia da Modernidade ("mas chorar por mim é coisa do futuro"...)
10 de out. de 2007
A Falsa-Guerra
Israel, Palestina, Iraque e Afeganistão são países em guerra. O Brasil não.
A criminalidade do Rio de Janeiro é tudo o que se espera da situação socio-econômica da América Latina. Um povo excluído, sem perspectiva e que comete crimes como forma de ascenção social. Muito diferente de qualquer tipo de Guerra Civil, em que há, via de regra, um confronto ideológico, político e/ou religioso. O que há no Rio é só o Crime. E a "solução" repressiva de um Estado despreparado. Nada além disso.
Muitos irão indagar: "Mas e as mortes?", "Morre muito mais gente no Rio do que na Guerra do Iraque". Não duvido disso, tampouco desconsidero. Inclusive, digo: Há algo pior do que a Guerra: O Crime (com "C" maiúsculo). É pior porque não há armistício, acordo ou ação imediata que resolva. É pior porque está impregnado na mentalidade de todos os cidadãos, e não de um grupo específico. É pior porque a única causa é a situação econômica de indivíduos. Muito diferente da causa conjuntural da guerra, a causa do Crime é estrutural.
Na Guerra, Direitos Humanos são desrespeitados, a pena de morte é perfeitamente aplicável e a única ação do Estado é o combate ao inimigo, independentemente do meio utilizado. Daí a propagação dessa idéia de que "O Rio vive uma Guerra não-declarada". Nessa "Guerra", o papel da sociedade não vai além do que legitimar a ação do Estado. Sinceramente, creio que não é disso que o Rio precisa.
Mais indagações surgirão: "Mas o que fazer a curto prazo?", "O morro tomará os bairros cariocas!", "Se não tem jeito, a polícia deve tentar resolver." Respondo: A ação da polícia deve acontecer, mas fica evidente que não está ocorrendo da maneira correta. Respeito a Direitos Humanos, combate à corrupção militar e Inteligência são prerrogativas de qualquer ação policial que aconteça. Quanto ao perigo iminente da "descida" do Tráfico aos bairros de classe-média, penso que não há muito interesse do "dono" do morro em provocar uma real guerra civil com seus consumidores.
E o argumento de não ter jeito: Tem jeito sim, mas a mudança, como já dito, deve ser estrutural. Quando o governo brasileiro deixar de priorizar as dívidas interna e externa, o Superávit Primário e, principalmente, o Capital Financeiro interno, teremos alguns tostões para investir na tão falada questão social. Até lá, não há Capitão Nascimento que resolva...
ouvindo... "Cidinho e Doca - Rap da Felicidade" (andar tranqüilamente na favela onde eu nasci...)
A criminalidade do Rio de Janeiro é tudo o que se espera da situação socio-econômica da América Latina. Um povo excluído, sem perspectiva e que comete crimes como forma de ascenção social. Muito diferente de qualquer tipo de Guerra Civil, em que há, via de regra, um confronto ideológico, político e/ou religioso. O que há no Rio é só o Crime. E a "solução" repressiva de um Estado despreparado. Nada além disso.
Muitos irão indagar: "Mas e as mortes?", "Morre muito mais gente no Rio do que na Guerra do Iraque". Não duvido disso, tampouco desconsidero. Inclusive, digo: Há algo pior do que a Guerra: O Crime (com "C" maiúsculo). É pior porque não há armistício, acordo ou ação imediata que resolva. É pior porque está impregnado na mentalidade de todos os cidadãos, e não de um grupo específico. É pior porque a única causa é a situação econômica de indivíduos. Muito diferente da causa conjuntural da guerra, a causa do Crime é estrutural.
Na Guerra, Direitos Humanos são desrespeitados, a pena de morte é perfeitamente aplicável e a única ação do Estado é o combate ao inimigo, independentemente do meio utilizado. Daí a propagação dessa idéia de que "O Rio vive uma Guerra não-declarada". Nessa "Guerra", o papel da sociedade não vai além do que legitimar a ação do Estado. Sinceramente, creio que não é disso que o Rio precisa.
Mais indagações surgirão: "Mas o que fazer a curto prazo?", "O morro tomará os bairros cariocas!", "Se não tem jeito, a polícia deve tentar resolver." Respondo: A ação da polícia deve acontecer, mas fica evidente que não está ocorrendo da maneira correta. Respeito a Direitos Humanos, combate à corrupção militar e Inteligência são prerrogativas de qualquer ação policial que aconteça. Quanto ao perigo iminente da "descida" do Tráfico aos bairros de classe-média, penso que não há muito interesse do "dono" do morro em provocar uma real guerra civil com seus consumidores.
E o argumento de não ter jeito: Tem jeito sim, mas a mudança, como já dito, deve ser estrutural. Quando o governo brasileiro deixar de priorizar as dívidas interna e externa, o Superávit Primário e, principalmente, o Capital Financeiro interno, teremos alguns tostões para investir na tão falada questão social. Até lá, não há Capitão Nascimento que resolva...
ouvindo... "Cidinho e Doca - Rap da Felicidade" (andar tranqüilamente na favela onde eu nasci...)
4 de set. de 2007
A Um Bilac
Lá no meio do estéril turbilhão da rua
José trabalha
E teima
e lima
e sofre
e sua!
E no aconchego do claustro do seu apartamento na Barra
Beneditino, escreve!
e teima.
E não tá nem aí pro José
E a arte pura
tá na cabeça do poeta
Porque a verdade, gêmea da tristeza
Tá é na vida do homem
que sofre
e sua
ouvindo... Mutantes - Parque Industrial (É somente requentar e usar...)
José trabalha
E teima
e lima
e sofre
e sua!
E no aconchego do claustro do seu apartamento na Barra
Beneditino, escreve!
e teima.
E não tá nem aí pro José
E a arte pura
tá na cabeça do poeta
Porque a verdade, gêmea da tristeza
Tá é na vida do homem
que sofre
e sua
ouvindo... Mutantes - Parque Industrial (É somente requentar e usar...)
15 de jul. de 2007
A lógica da coisa
_Vamos supor que o Edmundo e o Valdívia fossem para o Corinthians. Você continuaria corintiano?
_Claro.
_Agora imagine se todo o time atual do Palmeiras fosse para o Corinthians e vice-versa. Você vira palmeirense?
_Óbvio que não.
_E se o Kia e o Roque Cittadini fossem para lá?
_Até parece.
_E se o uniforme do Corinthians passasse a ser verde e branco? E o do Palmeiras fosse preto, branco e vermelho?
_Pára.
_E se toda a diretoria do Corinthians virasse palmeirense e a sede do clube mudasse e todos os associados saíssem? Continua torcendo pro Timão?
_Acho que sim.
_Tá vendo a irracionalidade da coisa?
ouvindo... Legião Urbana - Eduardo e Mônica (e quem irá dizer que não existe razão?)
_Claro.
_Agora imagine se todo o time atual do Palmeiras fosse para o Corinthians e vice-versa. Você vira palmeirense?
_Óbvio que não.
_E se o Kia e o Roque Cittadini fossem para lá?
_Até parece.
_E se o uniforme do Corinthians passasse a ser verde e branco? E o do Palmeiras fosse preto, branco e vermelho?
_Pára.
_E se toda a diretoria do Corinthians virasse palmeirense e a sede do clube mudasse e todos os associados saíssem? Continua torcendo pro Timão?
_Acho que sim.
_Tá vendo a irracionalidade da coisa?
ouvindo... Legião Urbana - Eduardo e Mônica (e quem irá dizer que não existe razão?)
13 de jul. de 2007
E Pan e tal...
_Pensei que você nem gostasse de esportes.
_Claro que gosto! Olha lá o Lula!
_O povo tá vaiando.
_É. O Galvão tá chamando de democracia.
_Pode ser.
(...)
_Começou a música. Olha a bateria, como tá sincronizada.
_É "playback".
_É mesmo! Que sem-graça...
_Aquele garoto lá ta fingindo que tá batendo. Aposto.
(...)
_Quem é essa cantora?
_Sei lá. Só sei que o Arnaldo Antunes tá mandando um rap. Que deprimente.
(...)
_A Argentina entrou. Aposto que vão vaiar.
_Tão vaiando menos do que vaiaram o Lula.
(...)
_O Peru tá entrando!
_Tinha piada mais cretina não?
ouvindo... Don McLean - American Pie
_Claro que gosto! Olha lá o Lula!
_O povo tá vaiando.
_É. O Galvão tá chamando de democracia.
_Pode ser.
(...)
_Começou a música. Olha a bateria, como tá sincronizada.
_É "playback".
_É mesmo! Que sem-graça...
_Aquele garoto lá ta fingindo que tá batendo. Aposto.
(...)
_Quem é essa cantora?
_Sei lá. Só sei que o Arnaldo Antunes tá mandando um rap. Que deprimente.
(...)
_A Argentina entrou. Aposto que vão vaiar.
_Tão vaiando menos do que vaiaram o Lula.
(...)
_O Peru tá entrando!
_Tinha piada mais cretina não?
ouvindo... Don McLean - American Pie
24 de jun. de 2007
Sons
Comecei dividindo o meu fone de ouvido. E a minha perna direita.
Tocava Jobim. Um lounge à brasileira. Uma bossa internacional. Patife, eu acho.
Um fone caiu. A noite também.
Eu continuava no Tom. Ela estava em outra. Olhava pra mim.
O som que cortava o ambiente era o meu batuque. Na mão dela. E eu não ouvia.
Só ouvia a Lígia. E o cabelo dela balançando (dela, não da Lígia).
A conjuntura internacional não favorece, mas ela me faz não pensar nisso.
E ela só pensa naquela bermuda de velcro. Ou zíper, sei lá eu. Só sei que começo a pensar nela também. E na bermuda.
Eu quero o mundo. Ela quer o instante. A gente se completa.
E eu adoro ver ela querendo o mundo. E odeio me ver querendo o instante. A gente se completa.
E o meu instante era aquele fone caído, aquela bermuda aberta e o coração batendo forte. E a gente se completa.
Ouvindo - Tom Jobim - Lígia
Tocava Jobim. Um lounge à brasileira. Uma bossa internacional. Patife, eu acho.
Um fone caiu. A noite também.
Eu continuava no Tom. Ela estava em outra. Olhava pra mim.
O som que cortava o ambiente era o meu batuque. Na mão dela. E eu não ouvia.
Só ouvia a Lígia. E o cabelo dela balançando (dela, não da Lígia).
A conjuntura internacional não favorece, mas ela me faz não pensar nisso.
E ela só pensa naquela bermuda de velcro. Ou zíper, sei lá eu. Só sei que começo a pensar nela também. E na bermuda.
Eu quero o mundo. Ela quer o instante. A gente se completa.
E eu adoro ver ela querendo o mundo. E odeio me ver querendo o instante. A gente se completa.
E o meu instante era aquele fone caído, aquela bermuda aberta e o coração batendo forte. E a gente se completa.
Ouvindo - Tom Jobim - Lígia
19 de jun. de 2007
Satisfeito
Eram hábitos estranhos que cultivava desde a infância. Começou com a sede. Aos oito anos passava um dia inteiro sem beber água só para chegar à noite e se satisfazer. Sentia um prazer incontrolável com isso.
Depois passou a não comer. Só comia uma vez por semana, mas se esbaldava entre chocolates, massas e molhos. Era adolescência, sua mãe achou normais as variações constantes de peso. Junto a isso, começou a controlar suas idas ao banheiro. O ato de urinar, após passar mais de vinte e quatro horas sem o fazer, era quase um nirvana. Defecava semanalmente. Achava que não era tempo suficiente para aproveitar o bastante, mas, depois do ocorrido na fila do banco, preferiu não arriscar mais.
Não era lá um homem muito sedutor e, sendo de família religiosa, logo conheceu a pessoa certa no coral da igreja. Sete meses após a lua-de-mel foi quando sua mulher pôde ter a segunda noite de sexo. Realmente, o gozo era incomparável, mas em um desses intervalos ela conheceu outro homem.
A decepção amorosa foi superada por outro hábito: Permanecer acordado. Bebia café, coca-cola, chegou até a tomar anfetaminas. Numa ocasião pôs o som do rádio no volume máximo. Dançou e cantou as músicas de infância. Foi feliz. Ficou por nove dias sem dormir e, quando o fez, nunca mais acordou.
ouvindo... Rolling Stones - Satisfaction (previsível, não?)
Depois passou a não comer. Só comia uma vez por semana, mas se esbaldava entre chocolates, massas e molhos. Era adolescência, sua mãe achou normais as variações constantes de peso. Junto a isso, começou a controlar suas idas ao banheiro. O ato de urinar, após passar mais de vinte e quatro horas sem o fazer, era quase um nirvana. Defecava semanalmente. Achava que não era tempo suficiente para aproveitar o bastante, mas, depois do ocorrido na fila do banco, preferiu não arriscar mais.
Não era lá um homem muito sedutor e, sendo de família religiosa, logo conheceu a pessoa certa no coral da igreja. Sete meses após a lua-de-mel foi quando sua mulher pôde ter a segunda noite de sexo. Realmente, o gozo era incomparável, mas em um desses intervalos ela conheceu outro homem.
A decepção amorosa foi superada por outro hábito: Permanecer acordado. Bebia café, coca-cola, chegou até a tomar anfetaminas. Numa ocasião pôs o som do rádio no volume máximo. Dançou e cantou as músicas de infância. Foi feliz. Ficou por nove dias sem dormir e, quando o fez, nunca mais acordou.
ouvindo... Rolling Stones - Satisfaction (previsível, não?)
10 de jun. de 2007
Argumentos
_Mãe, o que é globalização?
_Globalização? É assim: Você mora no Brasil, sabe de tudo que acontece no mundo e faz as coisas dos outros países.
_Que coisas?
_Música, comida, tevê, cinema...
_Mas eu como feijoada. Feijoada é brasileira. E eu ouço Sandy e Júnior.
_E por que você acha que o nome da Sandy tem "y"? "Y" é uma letra de outro país.
_Por causa da globalização... Mãe, é por isso que a feijoada tem porco?
_Não, meu filho, o porco é brasileiro.
_Mas e o "Babe, o porquinho atrapalhado"?
_Tem porco no mundo inteiro, filho.
_Eu sei que tem. Isso não é globalização?
_É... Pode ser...
_Então globalização é bom.
_De vez em quando. Tem hora que os países mais ricos tentam impor a cultura deles aos países pobres.
_Mas se eles são ricos, a cultura deles é melhor, não é?
_Não existe cultura melhor. As culturas só são diferentes.
_Mas o papai disse que a nossa cultura é a melhor. E que os árabes são burros porque matam gente.
_Seu pai não sabe de nada.
_Por isso que vocês separaram?
_Não, filho, a gente separou porque parou de se gostar.
_E por que se casaram então?
_Porque na época a gente se gostava.
_E quem é Pablo? Papai diz que foi por causa do Pablo.
_Filho, isso não é da sua conta.
_Mas eu tenho que saber tudo que acontece no mundo, não é? E isso aconteceu no mundo e eu não sei.
_Pablo era um argentino amigo meu que seu pai tinha ciúmes.
_Argentino? Isso é globalização, mãe?
_É sim. Agora vai dormir.
_E o que que é javascript?
ouvindo... Manu Chao - La Vie a 2
_Globalização? É assim: Você mora no Brasil, sabe de tudo que acontece no mundo e faz as coisas dos outros países.
_Que coisas?
_Música, comida, tevê, cinema...
_Mas eu como feijoada. Feijoada é brasileira. E eu ouço Sandy e Júnior.
_E por que você acha que o nome da Sandy tem "y"? "Y" é uma letra de outro país.
_Por causa da globalização... Mãe, é por isso que a feijoada tem porco?
_Não, meu filho, o porco é brasileiro.
_Mas e o "Babe, o porquinho atrapalhado"?
_Tem porco no mundo inteiro, filho.
_Eu sei que tem. Isso não é globalização?
_É... Pode ser...
_Então globalização é bom.
_De vez em quando. Tem hora que os países mais ricos tentam impor a cultura deles aos países pobres.
_Mas se eles são ricos, a cultura deles é melhor, não é?
_Não existe cultura melhor. As culturas só são diferentes.
_Mas o papai disse que a nossa cultura é a melhor. E que os árabes são burros porque matam gente.
_Seu pai não sabe de nada.
_Por isso que vocês separaram?
_Não, filho, a gente separou porque parou de se gostar.
_E por que se casaram então?
_Porque na época a gente se gostava.
_E quem é Pablo? Papai diz que foi por causa do Pablo.
_Filho, isso não é da sua conta.
_Mas eu tenho que saber tudo que acontece no mundo, não é? E isso aconteceu no mundo e eu não sei.
_Pablo era um argentino amigo meu que seu pai tinha ciúmes.
_Argentino? Isso é globalização, mãe?
_É sim. Agora vai dormir.
_E o que que é javascript?
ouvindo... Manu Chao - La Vie a 2
9 de jun. de 2007
Non-Sense pós-moderno
Há quem diga que o nome da mostra de tudo o que sobra da festa é a soledad. Eu não digo que não, nem digo que sim, já que soledad é em espanhol e eu só entendo inglês, understand? Ainda que não, se só entendesse italiano, capiciava que o resto do resto é o que não falta na festa. Mas que festa? Não há festa. E tem sombra na palmeira da praia. E côco também. Mas não era palmeira?
Bebamos, então, a sombra à sombra.
ouvindo... Falcão - A besteira é a base da sabedoria (mamãe diz que eu sou um pão e o que vale é a intenção)
Bebamos, então, a sombra à sombra.
ouvindo... Falcão - A besteira é a base da sabedoria (mamãe diz que eu sou um pão e o que vale é a intenção)
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