10 de out. de 2007

A Falsa-Guerra

Israel, Palestina, Iraque e Afeganistão são países em guerra. O Brasil não.

A criminalidade do Rio de Janeiro é tudo o que se espera da situação socio-econômica da América Latina. Um povo excluído, sem perspectiva e que comete crimes como forma de ascenção social. Muito diferente de qualquer tipo de Guerra Civil, em que há, via de regra, um confronto ideológico, político e/ou religioso. O que há no Rio é só o Crime. E a "solução" repressiva de um Estado despreparado. Nada além disso.

Muitos irão indagar: "Mas e as mortes?", "Morre muito mais gente no Rio do que na Guerra do Iraque". Não duvido disso, tampouco desconsidero. Inclusive, digo: Há algo pior do que a Guerra: O Crime (com "C" maiúsculo). É pior porque não há armistício, acordo ou ação imediata que resolva. É pior porque está impregnado na mentalidade de todos os cidadãos, e não de um grupo específico. É pior porque a única causa é a situação econômica de indivíduos. Muito diferente da causa conjuntural da guerra, a causa do Crime é estrutural.

Na Guerra, Direitos Humanos são desrespeitados, a pena de morte é perfeitamente aplicável e a única ação do Estado é o combate ao inimigo, independentemente do meio utilizado. Daí a propagação dessa idéia de que "O Rio vive uma Guerra não-declarada". Nessa "Guerra", o papel da sociedade não vai além do que legitimar a ação do Estado. Sinceramente, creio que não é disso que o Rio precisa.

Mais indagações surgirão: "Mas o que fazer a curto prazo?", "O morro tomará os bairros cariocas!", "Se não tem jeito, a polícia deve tentar resolver." Respondo: A ação da polícia deve acontecer, mas fica evidente que não está ocorrendo da maneira correta. Respeito a Direitos Humanos, combate à corrupção militar e Inteligência são prerrogativas de qualquer ação policial que aconteça. Quanto ao perigo iminente da "descida" do Tráfico aos bairros de classe-média, penso que não há muito interesse do "dono" do morro em provocar uma real guerra civil com seus consumidores.

E o argumento de não ter jeito: Tem jeito sim, mas a mudança, como já dito, deve ser estrutural. Quando o governo brasileiro deixar de priorizar as dívidas interna e externa, o Superávit Primário e, principalmente, o Capital Financeiro interno, teremos alguns tostões para investir na tão falada questão social. Até lá, não há Capitão Nascimento que resolva...


ouvindo... "Cidinho e Doca - Rap da Felicidade" (andar tranqüilamente na favela onde eu nasci...)